Rafael Rodrigues
Vários estudos vêm mostrando como substâncias psicodélicas (cogumelos mágicos, LSD, ayahuasca, etc.) podem alterar nosso senso de si. No entanto, como a neurociência nos ajuda a entender essas alterações na percepção? Para entender melhor isso, podemos pensar no cérebro humano como uma orquestra. Cada "grupo de instrumentos" representa um circuito de neurotransmissores específico. Dentre os vários grupos existentes, 3 deles parecem ser muito importantes para o funcionamento desse senso de si: os circuitos serotoninérgico, dopaminérgico e GABAérgico. Esses sistemas atuam em interação, com cada um fazendo seu “som”, mas a serviço de uma música coerente.
E aqui os psicodélicos entram: na medida em que essas moléculas agem no corpo, elas interagem com esses circuitos e essa música que o cérebro faz começa a ser tocada de forma diferente, reestruturando toda a orquestra, e não apenas um ou outro circuito específico. Como exemplo disso, a literatura científica mostra que esse grupo de substâncias pode ter um impacto considerável (não em todos, mas em boa parte dos sujeitos) na Rede de Modo Padrão (ou Default Mode Network) e na Rede de Saliência (Salience Network). Ambas redes são atravessadas pelos circuitos acima mencionados, e são fundamentais na construção de diferentes dimensões do nosso senso de autoconsciência: regulação emocional, metacognição, interocepção, memória autobiográfica, pertencimento corporal e senso de agência. Em outras palavras: mudar a atividade dessas redes pode estar relacionado com as mudanças em como percebemos o mundo e a nós mesmos.
Mograbi, D.C., Rodrigues, R., Bienemann, B. et al. Brain Networks, Neurotransmitters and Psychedelics: Towards a Neurochemistry of Self-Awareness. Curr Neurol Neurosci Rep 24, 323–340 (2024). https://doi.org/10.1007/s11910-024-01353-y